quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Vergonha relativa

Já disse que abomino e não percebo porque é que existe qualquer tipo de batota em desportos de competição. Qualquer desporto, quando é inventado, tem como objetivo revelar quem são os melhores praticantes e premiá-los. Ganhar uma competição com batota a mim não me daria nenhum prazer, porque não provava nada sobre a minha capacidade de praticar um desporto. Mas já percebi que nem toda a gente pensa como eu.

É por isso que cresci a detestar o Porto. É óbvio que o crescimento do Porto desde os anos 80 foi baseado em toda a subversão de regras que era possível. Controlavam árbitros, observadores de árbitros, presidentes, treinadores, jogadores, liga, federação, claques, jornalistas, polícias, políticos e talvez até juízes. Com o sucesso que tinham, começaram a ter gosto em ganhar com batota e até acho que, podendo escolher entre ganhar justamente ou com ajuda, preferiam a segunda opção, para mostrarem que podiam. Claro que os adeptos do Porto negam, não falam sobre isto ou dizem que todos os clubes faziam o mesmo, porque é difícil reconhecer que o domínio que conseguiram no futebol português foi obtido de forma injusta, mas quero acreditar que, pelo menos aqueles que não deixam o lado emocional dominá-los completamente, reconhecem que isto aconteceu, mesmo que não o digam.

Nos primeiros anos em que isto aconteceu, não me parece que o Benfica tenha usado o mesmo tipo de estratégias. Comecei a ver futebol na época 1994/1995, a primeira de 5 épocas seguidas em que o Porto ganhou o campeonato e, desde aí e até Jorge Jesus chegar, o Benfica só ganhou um campeonato, em 2004/2005. Se fizeram batota, tiveram muito pouco jeito, porque ganharam pouco com isso. Nos últimos dois anos, fiquei muito mal impressionado com a proteção que o Benfica teve das arbitragens, principalmente no princípio das épocas (onde é importante ganhar embalo), com as "lesões" que os jogadores que emprestou a outros clubes tiveram, com a proibição escandalosa da participação do Miguel Rosa e do Deyverson, jogadores que nem sequer estavam emprestados pelo Benfica, em jogos contra si, e agora com as ofertas dadas a todos os árbitros. Há a hipótese de terem achado que a única forma de tirarem o domínio do Porto era imitá-los, mas não há provas conhecidas de que isso tenha acontecido. Das ilegalidades do Porto é que não há dúvida nenhuma.

E o Sporting, não tem comportamentos deste género? Desde que eu comecei a ver futebol, se tem, não têm tido grande efeito. Houve algumas épocas em que, no geral, o Sporting foi muito prejudicado pelas arbitragens, como a de 1998/1999 (a de Mirko Jozic e do luto), a de 2013/2014 (a de Leonardo Jardim) e esta, até agora. E há uma época em que há a hipótese de ter sido mais beneficiado do que prejudicado, a de 2001/2002 (a primeira de Lazlo Boloni), mesmo se o argumento que muitas pessoas usam para o provar seja muito pouco inteligente (o que interessa não é o número de penalties assinalados, é o saldo entre o número de penalties mal assinalados e aqueles que ficaram por assinalar). Nestes anos todos, consigo lembrar-me de dois erros muito evidentes a favor do Sporting: o penalty mal assinalado sobre o Jardel, em 2001/2002, e a bola que o Ricardo defendeu dentro da baliza, em 2005/2006. Há mais, de certeza, mas o fato de ser difícil lembrar-me deles deve querer dizer alguma coisa (para além de eu ser sportinguista, espero eu).

E é aqui que eu queria chegar: há uma exceção. O que o Paulo Pereira Cristovão fez, ou tentou fazer, não pode ser feito. Acho que, nesta altura, já não há dúvidas nenhumas sobre o que aconteceu: antes de um Sporting - Marítimo, para a Taça de Portugal de 2011/2012, mandou um colaborador ir à Madeira depositar 2000€ na conta do árbitro auxiliar José Cardinal, que estava nomeado para o jogo. Depois, fez uma denúncia anónima ao Sporting sobre o depósito, que a transmitiu à Federação, que substituiu o árbitro auxiliar por outro. O Sporting, presidido por Godinho Lopes, não o demitiu, espero que por acreditar na inocência dele, mas ele suspendeu as suas funções quando se soube do caso e acabou por se demitir sem voltar ao ativo. O que aconteceu foi inético, ilegal e envergonha os sportinguistas (espero eu), que gostavam que isto nunca tivesse acontecido.

Mas, sendo muito mau, não foi corrupção. Com este comportamento, o Paulo Pereira Cristovão não tentou que o Sporting fosse beneficiado. O objetivo deste esquema era a substituição do árbitro assistente (e não do árbitro principal) por outro, que, pelo menos que se saiba, não seria pressionado para beneficiar nem prejudicar o Sporting. Claro que, se um clube fizesse isto com todos os árbitros e árbitros auxiliares de que não gosta, acabaria por só ser arbitrado por árbitros que considera amigos, mas estamos a falar de um único árbitro assistente (e o Paulo Pereira Cristovão deve ter-se lembrado do penalty por uma bola com o peito fora da área, que resultou no segundo amarelo ao Pedro Silva, assinalado contra o Sporting por José Cardinal, a 50 metros do lance, na final da Taça da Liga de 2008/2009).

Mais uma vez, claro que esta estratégia é inaceitável e espero que nunca mais seja usada no Sporting, mas não punha o Sporting em vantagem sobre o Marítimo. O árbitro e os árbitros auxiliares que foram a jogo não estavam pressionados de maneira nenhuma para beneficiarem qualquer das equipas. Tanto que a acusação sobre Paulo Pereira Cristovão não tem nada a ver com corrupção: chama-se denúncia caluniosa e consiste em acusar alguém que se sabe estar inocente com o objetivo de que seja castigado. Corrupção foi o que o Porto fez quando deu dinheiro ao Jacinto Paixão ou quando pagou uma viagem ao Carlos Calheiros.

Com o que se passa agora entre Benfica e Sporting, este caso vai ser mencionado muitas vezes. Temos que reconhecer que existiu, mostrar que nos envergonha, mas explicar o que aconteceu. Não podemos deixar pessoas como o Pedro Guerra falar disto como se fosse uma prova de que o Sporting é um clube batoteiro sem lhes responder. A ideia deles é serem propositadamente desonestos intelectualmente, e o nosso papel é mostrar que percebemos o que estão a fazer.

2 comentários:

  1. Haja alguém que esclareça tudo timtim por timtim num texto curto e legível por seres com QI's mais modestos.

    Agora já tenho um link para postar como resposta aos energumenos que usam este caso até à exaustão de cada vez que o seu clube é acusado de corrupção, num género de "Quem diz é quem é".

    Obrigado

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    1. De nada. Já sei como é que funcionam as discussões no futebol, em que se dizem frases soltas sem explicar o que aconteceu, só para passar uma ideia, e esperar que cole. Mas basta parar para pensar, dar razão quando se tiver que dar e denunciar a desonestidade intelectual quando ela existir. E existe muitas vezes.

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